terça-feira, 28 de outubro de 2008
Fechaste a porta do teu olhar
Fechaste a porta do teu olhar. Senti tudo ficar escuro à minha volta, o mundo parou e as janelas da minha mente foram fechadas também. Ias-te embora, pela estrada por onde outrora vinhas ao meu encontro. Doía por dentro. As lágrimas irromperam dos meus olhos, sublinhei o desespero do meu amor. Nunca saberás o quanto me custou, ali sentada, de face húmida, a ver-te partir pela rua abaixo, de costas voltadas para mim. Quis correr para ti mas percebi que isso nada mudaria, só tornaria o momento ainda mais penoso. Não ousaste olhar nenhuma vez para trás. Chorarias ou não me quererias encarar uma última vez? Foi tão duro, nunca mais quero experimentar a dor de uma partida. As nuvens corriam velozes, como que a anunciar que também tu saías da minha vida de forma veloz. Deixei de te ver, viraste a esquina ao fundo daquela rua que tinha presenciado o nosso Adeus para sempre. Deixei-me ficar semi-deitada nas escadas daquela casa onde tantas vezes me tinhas vindo trazer, nas escadas para onde o mundo me tinha atirado sozinha de forma cruel. Anoitecia pouco a pouco. Muitas pessoas passaram, poucas se preocuparam com as lágrimas que rolavam repetidamente pela minha cara abaixo. Por vezes, subitamente, olhava para o fundo da rua; podias ter percebido que aquele não era o teu caminho, apenas o poderia ser se feito comigo. Mas não, tu não voltaste, não te lembraste que eu ainda te poderia ali esperar. Anoiteceu por completo, já só o brilho da lua lá no céu longínquo testemunhava o meu sofrimento naqueles degraus polidos pelo meu pranto. Pensei em levantar-me, sair dali, mas as forças eram poucas, tinhas-me deixado num estado de completa exaustão. Como era possível que de um momento para o outro tudo se desmoronasse à minha volta? Não tinha mais em que acreditar, havia perdido tudo o que ainda me fazia viver por assim o desejar, havia-te perdido a ti. E não sabia ao que me havia de agarrar para continuar os meus dias e ultrapassar cada momento de solidão. Ahhh! Apetecia-me gritar contra o mundo tão cruel para mim naquele dia. A mágoa invadiu-me por completo. Levantei-me por fim, deambulei pela cidade adormecida pela noite, notando todo o encanto que ela tinha perdido. A minha vida também tinha perdido todo o encanto. Cansei-me de vaguear, voltei para aqueles degraus, para a minha casa. Empurrei a porta com estranho pesar, senti aquele espaço demasiado vazio. Caí mesmo ali no sofá e adormeci a chorar.
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