quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Choro

Choro. Choro porque o instante não me abona. Encontrei no meu âmago a sensação de toda a minha vida ter percorrido um caminho que inexoravelmente me conduziu a ti. O antes de ti foi vazio. Serás razão para gordas gotas salgadas correrem sistematicamente pelo meu rosto, de sorriso mais que apagado? Marcaste a minha sina, sinto que voltei a não ser capaz de ter um mínimo de controlo sobre os meus sentimentos tão fortes, mas tão pequeninos nas suas capacidades de luta. Revelaste-te omnipresente na minha mente, o vento traz-te até mim e logo de seguida leva-te, vejo cada pedaço de ti, não como no ontem, mas como no agora que se me afigura sombrio. Choro. Não retornas às minhas mãos, eu não povoo os teus sonhos, não faço parte das coisas essenciais para viveres. Sinto-me um nada a flutuar no ar, a pairar sem destino traçado. Apagaste as minhas imunidades, revelaste o meu lado frágil e depois fugiste com tudo o que me retirava as fraquezas. Fizeste as malas, encheste-as com os momentos que tínhamos passado, apenas me deixaste um último beijo, com sabor a muito pouco, e partiste. Fiquei na sombra, no recanto usual em que sempre me refugiei, chorei abundantemente e tentei afastar o medo da solidão que se tentava apoderar de mim. Começo a perceber que não sou capaz de suportar a tua ausência, é demasiado absurdo tentar reiniciar a minha vida, uma vida que sempre foi feita com e para ti, nada mais faz sentido. Quis seguir-te, tentar entrar de novo na tua vida, mas percebi que já não era bem-vinda a ela. Tornaste-te frio, procuraste afugentar-me. E isso não permito. Agora quero-te longe, vai para bem longe daqui e nunca mais te afigures à minha frente ou me dirijas qualquer conjunto de palavras. Fartei-me de ti, não mais te consigo suportar desta forma hipócrita. No entanto, ainda te amo e choro a tua ausência e a tua mudança. Como nunca havia chorado por ninguém. Sim, ainda te amo muito, meu amor.

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