sexta-feira, 26 de junho de 2009
Felicidade
A felicidade não é um dom, é uma conquista. Ninguém nasce com ela, temos de a conquistar, logo não há razão para esmorecer perante um obstáculo, há sim que meter na cabeça que a luta será constante até ao último dia. E perceber que nunca teremos a felicidade plena, isso é algo impossível de alcançar, porque por muito felizes que estejamos, isso nunca nos chegará. Enquanto lutamos pela felicidade, há que manter o sorriso aceso no rosto. Só assim é possível a chama do sonho nunca se apagar e nunca regredirmos na nossa luta.
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quarta-feira, 24 de junho de 2009
Até já, estou no corredor.
Chegas a casa, cansado do trabalho, e nem te lembras de me dar um beijo. Dói. Atiras o casaco para o bengaleiro, mas ele vai parar ao chão e nem o apanhas. Caramba, estou farta de te dizer para não deixares nada desarrumado. Não me importa que não gostes desta minha mania das arrumações, mas padeço desta terrível extravagância. Vais tomar um banho, dizes, e arrastaste-te pelo corredor fora, esse espaço carregado de fotografias simbólicas, que se calhar só o são para mim. Vens para jantar, mas quando é que tencionas perceber que eu não sou a tua empregada e sim a tua mulher. Abraça-me pelo menos, tenho tantas saudades de te sentir a enlaçar-me em ti. Mas já não sabes o que é isso. Sabes que mais? Estou farta, querido, hoje não janto, digo eu e tu dizes Está bem. Podias ao menos perguntar porquê. Mas a tua preocupação comigo já se esgotou há muito. Estás aqui e é como se não estivesses, entendes? Não, não entendes coisa nenhuma do que digo ou penso, e não fazes sequer um esforço para tentar. Já não aguento mais, vou chorar para o corredor, não me apetece olhar para a tua cara, é dia após dia isto e eu não fui feita para viver assim. Acorda desse mundo que é só teu e em que não me deixas penetrar. Eu queria somente ter-te no verdadeiro sentido da palavra, mas o que tenho resume-se a um marido que chega do trabalho, come e vai dormir. Porque se acabaram os tempos em que ficávamos juntos no nosso sofá, bem aconchegados a ver um bom filme. Antes sabias escolher bons filmes, agora nem sequer sabes ver um filme. Vê se percebes que preciso de mais do que um homem cá em casa, preciso de um marido, isso sim. Só te peço que retornem os antigos momentos de partilha a dois, que voltemos ao que éramos no nosso primeiro ano de casamento, porque agora já sem sequer chamo a isto um casamento. Até já, meu amor, vou percorrer cada fotografia de felicidade espelhada que se encontra no nosso corredor, esse álbum de memórias que começa a ser mais meu do que teu.
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terça-feira, 23 de junho de 2009
Amanhã vamos ser felizes?
Amanhã vamos ser felizes? Dá-me a certeza de que sim, de que vamos calcorrear a calçada da rua ali de fora de mãos dadas, esboçando largos sorrisos e fazendo promessas infundadas de eterno amor. Dá-me esse prazer momentâneo, essa sensação de que te terei comigo para sempre, apesar de saber que só existes no presente e que depois serás mera recordação, entre tantos outros, ainda que sobressaias. É sempre assim, eu não consigo conservar aquilo de que gosto e mais tarde ou mais cedo vais-te cansar desta bipolaridade que me afecta a cada minuto que estou contigo. Conheces bem este querer-te desmedido. Mas amanhã, meu amor, vamos ser felizes, eu sei que sim, porque amanha vou acordar bem-disposta, eu sei que sim, sei. E vou beijar-te como se se tratasse novamente da primeira vez que os nossos lábios se tocam nessa união selada que tão bem sabe. Encontramo-nos nesse silêncio sagrado, o olhar por vezes consegue falar mais do que um grande conjunto de palavras. Apesar desse brilho que mostras, eu sei que os teus olhos me mentem, eu sei que eu sou apenas mais um passatempo que consomes até não poderes mais. Enquanto isso, vais procurando o próximo passatempo. Quando o encontrares avisa, sim? No fundo, já deves ter decerto encontrado. Essa outra sem cara nem nome já te preenche as horas vagas, eu sei, e no entanto, ando aqui a fazer figura de ursa a lutar por algo que já não é meu. Os teus olhos mentem, por isso porque tentas-me prender a ti? Eu prendo-me, não te dês ao trabalho, a sério. Mas, oh, amanhã vamos ser felizes, tu vais-me trazer de novo a casa, vais-te sentar ali na escadinha junto a mim. Os vizinhos invejarão o que (agora) temos, serão testemunhas de tudo o que partilhámos. E quando tiveres de ir vais-me abraçar bem, enrolar-me confortavelmente em ti e olvidar tudo o mais que existe no mundo. Mas um dia não vais mais vir por essa rua acima. Nesse dia, digo-te Adeus, está bem? Mas amanhã, amanhã vamos é ser muito felizes.
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quarta-feira, 17 de junho de 2009
Seremos nada
Escrito em 03-01-2009
Não aceito que cheguemos a esta condição: a quase obrigação de dizer “Olá”, os olhares secos e sem expressão de nada, o evitar passar um pelo outro. Subitamente, tantas palavras doces, tantos sonhos alimentados, tantos momentos partilhados começam a transformar-se em meras memórias que habitam cada vez mais desgastadas nas nossas cabeças. Antes dizias que eu era muito, que tudo o que partilhávamos seria para sempre. Eu não acreditava que fosse para sempre, mas acreditava que na tua vida significava muito, e isso bastou-me para crer que os nossos sentimentos tinham bases sólidas, tinham espaço para crescer. E não é mais assim. Tudo desvairou, começamos um progressivo afastamento e nunca mais iremos voltar ao que fomos. Que é feito de tudo? Não nos restam muitas esperanças, não há forma de crer num futuro que certamente não será escrito em conjunto. Fomos muito, somos algo, seremos nada.
[E não é que naquela altura previ o futuro?]
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quarta-feira, 10 de junho de 2009
Voltaste (e eu não quero que voltes)
Tens sempre de voltar para me atormentar, não é? Afinal já faz parte de ti, não te cabe na cabeça que eu consiga ser feliz sem ti, que eu consiga ter uma vida normal apesar de não te ter. Mas eu consigo e isso faz-te confusão, então tiveste que voltar. Tiveste de remexer no passado que eu tinha fechado com pesada chave de estanho. Feita de tão frágil material, ontem partiu-se, ou melhor, tu quebraste-a e reviraste tudo o que encontraste. Puseste-me sem conseguir dormir, puseste-me a tentar de novo convencer-me de que te odeio. Andei todo este tempo a crer que nunca mais ia falar contigo, que não te responderia a nada, e no momento em que deveria ter aplicado esses pensamentos, fraquejei como sempre faço perante ti. Tomámos a já habitual conversa de circunstância que cada vez mais detesto. Sentiste-me fria contigo, e ainda bem. É necessário que percebas que já deixei de estar aqui para te dar afecto quando precisas. Ontem apeteceu-me tanto dizer-te tudo o que já há algum tempo precisas de ouvir, mas não fui capaz. Nunca sou. Agora quero convencer-me de que, se houver próxima, eu irei conseguir. Ou não. Mas agora deixa-me viver apenas por mim, de uma vez por todas.
Gravity
Gravity by Sara Bareilles -
Existem letras de músicas que por vezes conseguem descrever o que sentimos melhor do que nós próprios conseguimos descrever .
E esta faz isso na perfeição .
Something always brings me back to you. It never takes too long.
No matter what I say or do I'll still feel you here 'til the moment I'm gone.
You hold me without touch. You keep me without chains.
I never wanted anything so much than to drown in your love and not feel your rain.
Set me free, leave me be.
I don't want to fall another moment into your gravity.
Here I am and I stand so tall, just the way I'm supposed to be.
But you're on to me and all over me.
You loved me 'cause I'm fragile. When I thought that I was strong.
But you touch me for a little while and all my fragile strength is gone.
Set me free, leave me be.
I don't want to fall another moment into your gravity.
Here I am and I stand so tall, just the way I'm supposed to be.
But you're on to me and all over me.
I live here on my knees as I try to make you see that you're
everything I think I need here on the ground.
But you're neither friend nor foe though I can't seem to let you go.
The one thing that I still know is that you're keeping me down.
You’re on to me, you’re on to me and all over...
Something always brings me back to you. It never takes too long.
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sábado, 6 de junho de 2009
quarta-feira, 3 de junho de 2009
Não sei ser
Tudo me lembra de ti. Tudo mesmo. Porque é que não sou capaz de fazer a distinção entre o que ainda compõe a minha vida e o que já a compôs? Cada ínfimo detalhe, cada indeterminante pormenor, em cada coisa estás sempre. A minha cabeça é assaltada todo o tempo por flashbacks, revejo cada momento que passamos, cada conversa que tivemos, cada segredo que te contei. Imagino cada um dos momentos que podíamos ter vindo a ter. Eu já não sou nada senão um enorme conjunto de recordações e perguntas sem respostas, e assim não sei ser.
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segunda-feira, 1 de junho de 2009
Piano (mais uma vez)
As luzes irão iluminar a minha peça interpretada sobejamente nestas teclas já gastas. Toco neste meu piano imaginário com a força de quem toca num verdadeiro. Nunca soube tocar piano, mas faz-me bem imaginar que o estou a fazer, sentir as notas a percorrerem avidamente os meus dedos, buscando a tecla, buscando a voracidade da música a percorrer me tal qual o sangue nas veias. Fecho os olhos e imagino. A imaginação é capaz de nos levar onde quisermos e a mim leva-me a um banco de veludo em frente a um piano de cauda, onde me sento e preparo para tocar aquela que será sempre a melhor de todas as melodias. Sinto a música, ela acalma-me mas põe-me também selvagem. Ela tira de mim as forças e simultaneamente restitui-mas. Envolvo-me na melodia, a minha cabeça lateja de vontade de calcorrear com as minhas mãos cada pedaço de branco e preto do contraste que este teclado possui, as notas já se entrosaram nos meus sentidos. O piano acalma-me, estas teclas são o meu ponto de refúgio e, no entanto, são apenas imaginárias.
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